Britney Spears colocou em evidência a violação diária do corpo da mulher e faço uma reflexão sobre o assunto.
Essa semana, Britney Spears, após 13 anos, falou sobre sua tutela que a fez perder a guarda dos filhos, perder o comando de seu próprio dinheiro, sua independência como um todo. Durante seu depoimento, algo nunca antes declarado chamou a atenção da imprensa: ela afirmou que a tutela não a permite seguir com o desejo de ter sua família. "Quero me casar e ter um filho. Eu queria remover o meu DIU (dispositivo intrauterino) para engravidar, mas o tutor não me deixa porque não querem que eu tenha um filho.”
Essa afirmação trouxe um questionamento muito importante. Em pleno século 21, a mulher tem pleno controle de seu corpo? Infelizmente não.
Listei algumas situações que a maioria das mulheres, inclusive eu, ainda é exposta:
Uso de pílula anticoncepcional: quantas mulheres já não fizeram uso de pílula porque o homem não queria usar camisinha? Lembrando que o medicamento só protege – não chega a 100% - de uma possível gravidez e não de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) como HIV e Sífilis. Os efeitos colaterais dos hormônios ficam somente para as mulheres que se privam de ter um ciclo menstrual natural, de entender suas fases e o próprio corpo. Quantas mulheres já fizeram uso de pílula anticoncepcional para aliviar cólicas? Eu mesma, ainda adolescente e virgem, comecei a tomar pílula por indicação médica. Hoje percebo que não precisava ter ingerido anos e anos de hormônios diariamente para aliviar minhas cólicas. Há uma diversidade de tratamentos mais naturais para o meu caso, por exemplo.
Mulher não chegar ao orgasmo e tudo bem: você já se sentiu um receptáculo de sêmen? Você está numa relação sexual, ainda em fase de excitação, e o parceiro ejacula. Ali o sexo acaba, na maioria das vezes, porque o tesão dele já foi resolvido. Você é invadida por outra pessoa e o seu prazer está aonde?
A pressão para a mulher ter filhos: o Brasil é o primeiro país da América Latina em procedimentos de reprodução assistida. Não basta a mulher se realizar nos estudos e profissionalmente. A pergunta sempre vem: “E aí, quando vai ser mãe? Olha, seu relógio biológico está passando!” Neste momento, a autonomia do nosso corpo é tomada novamente, como se a mulher somente fosse uma pessoa de sucesso tendo filhos. A mulher tem o direito de ter outros objetivos na vida. E essa é uma escolha dela e não do outro.
Ser criticada ao fazer plásticas: quem nunca criticou uma mulher que fez plástica? Eu já critiquei. E as que passam pelas cirurgias, muitas delas, ainda não têm coragem de dizer que fez por receio dos comentários negativos. Quando entrevistei a Anitta, alguns anos atrás, ficamos um bom tempo conversando sobre a relação corpo-plástica. E com aquele papo comecei a ter um outro olhar sobre as plásticas. Se é certo ou errado, não sei. Mas uma coisa é: cada um tem o direito de cuidar do corpo da forma que quiser. E aqui não falo sobre os distúrbios de imagem (isso é outra coisa, tá?). Mas, no geral, antes de condenar alguém que fez plástica, pense um segundo: “aquele corpo é o meu? Não. Então por que eu tenho que me intrometer na felicidade alheia?”
Esses pequenos exemplos são para mostrar o quanto o corpo de uma mulher é invadido diariamente e não nos damos conta, pois já está enraizado na nossa cultura. São invasões de diversas esferas: desde médica até sexual. Precisamos nos libertar e, de uma vez por todas, a sociedade entender e colocar em prática a frase “meu corpo, minhas regras.” LEIA MAIS:
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Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.
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