Sempre achei que fosse desinibida com o nu. Não ligo em tirar a roupa na frente das pessoas. Já fui à praia de nudismo e frequentei dezenas de albergues, sem muita privacidade como de costume nesses lugares…
Quando fui convidada a participar de uma aula de yoga nu, no Centro Muladhara, na Vila Madalena, em São Paulo, achei que não teria muito mistério. Estava mais preocupada em conseguir fazer as posições do que a falta de roupa. Minha última aula de yoga “normal” foi há 9 anos.
Cheguei 8 minutos atrasada e quando entrei na sala já estavam todos sentados, vestidos, formando um círculo. Ali, senti uma tensão por minha parte. Entrei, sentei também e vi que era a primeira aula do espaço, ou seja, muitos ali, como eu, nunca haviam praticado a modalidade. Dei uma contada geral e eram 5 mulheres para 13 homens.
Para quebrar o gelo, a terapeuta Raje Vidya pediu para levantarmos e aleatoriamente nos apresentarmos uns aos outros. Depois, também abraçar quem estava lá passando pela experiência assim como eu. Ali me dei conta de que a maioria tinha formação tântrica e eu era apenas uma curiosa no assunto. Peixe meio fora d’água.
Sentamos, cada um no seu tapete, ainda vestidos, e o professor indiano, Mahakal Tattwa, começou a conversar conosco antes de realmente começarmos a aula. Gelei, me deu vontade de sair correndo. Sei lá qual medo ou vergonha me deu. Mas já era tarde para sair. Fiquei beeeeem tensa.
Enquanto prestava atenção na luz do ambiente, que passava pelo azul, vermelho, laranja até a penumbra, ele nos convidou a tirar a roupa na outra sala. Me despi sem olhar para o lado e fui para o meu lugar. Fiquei no fundão, uma sugestão para os mais tímidos.
Ali começou meu constrangimento (rs). Todas as posições eu fiz bem de boa, mas olhar em volta e ver corpos que não conhecia me trouxe estranhamento, sim. Me concentrava para não virar a cabeça para o lado. À minha frente e esquerda eram mulheres, à minha direita era um homem e atrás um vaso de planta. Eu sempre olhei para o corpo de forma sexualizada e acho que a maioria também olha.
A cada posição eu via o corpo dos vizinhos de forma diferente. Todas as parte pubianas… Ficava pensando: “será que só eu estou constrangida aqui, meio envergonhada?” Não é fácil ver o pênis, a vagina ou ânus de quem você nunca conversou na vida a menos de 1 metro de distância. Vocês podem me achar pudica: “poxa, você nunca transou com estranho? Nunca viu um monte de gente pelada?”
Sim, já transei e já vi. Mas uma coisa é você ver vários corpos pelados para uma orgia, outra coisa é para uma aula de autoconhecimento.
Foram duas horas de aula. Nem ligava mais se eu iria conseguir fazer os movimentos – que nem foram difíceis, realizei todos. O maior desafio foi desapegar o olhar do erotismo mesmo. As pessoas estavam muito próximas umas das outras, e isso dificultou que eu ficasse mais à vontade. A sala encheu e quase nos tocávamos na troca de uma postura para outra.
Talvez se eu tivesse mais espaço, ficasse menos constrangida.
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*Esse texto publiquei originalmente no site da revista Marie Claire.
Foto: Acervo
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