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Por que temos que assistir a "Sex Education" e "Euphoria"

Atualizado: 4 de mar. de 2022


A relevância das duas séries blockbuster e o que podemos aprender com elas.



Andando pelas ruas e metrôs de São Paulo observei banners e outros tipos de propaganda sobre a nova temporada de Sex Education e, confesso, que me deu um calorzinho no coração porque temos, sim, que falar sobre a educação sexual dos adolescentes. Que bom que grandes empresas como Netflix e HBO estão abrindo espaço para discussões sobre o tema. Que bom!


Agora vou destrinchar minhas impressões sobre a segunda temporada que, ao meu ver, está ainda mais didática do que a primeira como, por exemplo, a cada abertura de episódio há a explicação de questões bem frequentes como "o que é o vaginismo" (a dor na penetração resultante de um medo, de um trauma). Vejo nos meus atendimentos mulheres jovens de 20 anos com este problema. Muitas delas não conseguem nem utilizar absorvente interno por conta da dor provocada. O vaginismo deve ser tratado o quanto antes porque não atinge somente a parte sexual e sim a vida como um todo (profissional, pessoal) resultando em baixa autoestima, baixa confiança. E quantas jovens que passam por esse problema podem ter se identificado ao assistir à cena do seriado? Ali é apenas um começo para ela investigar a questão. Ou até mesmo a explicação fofa que um dos personagens ilustrou na lousa da escola sobre a “chuca" que nada mais é a limpeza do reto antes do sexo anal. Tenho certeza que o desenho explicativo ajudou muitos jovens a entender o processo. Ou até mesmo os adultos… porque eu duvido que todos saibam fazer corretamente (risos).


Já no primeiro episódio, a escola inteira se alarma com um possível surto de clamídia. Alunos e professores não sabem o que exatamente isso significa e muitos começam a correr desesperados pelos corredores, a usar máscaras de proteção, ou seja, total falta de informação dentro da escola. Mas clamídia nada mais é do que a infecção sexualmente transmissível (IST) mais comum do mundo, causada por uma bactéria, e transmitida pelo contato sexual sem proteção (vaginal, oral, anal), não se pega pelo ar e não precisa usar máscaras (risos). O tratamento é via medicamentos e tem cura. Ali, de forma cômica, mostrou o despreparo das instituições de ensino em relação à educação sexual e também sobre a importância de se usar preservativos na relação.


Há também o recorte lindo sobre a sororidade quando uma das meninas é vítima de violência sexual dentro do ônibus (um dos passageiros ejacula na calça dela). Ao longo dos capítulos mostra o que aquela situação interferiu na relação dela com o namorado, com as amigas, na escola ou até mesmo entrar novamente em um transporte público. Sim, a violência seja ela física ou emocional causa traumas nas vítimas e deve ser levada a sério. As amigas percebendo os sintomas pós-abuso ajudam a personagem a superar a situação.


Outro assunto tabu e tão pouco falado é a questão dos deficientes físicos e a sexualidade vivida por eles. Nesta temporada há a chegada de um vizinho com deficiência que se apaixona pela Maeve e mostra que qualquer um pode ter desejos e sentimentos. Sim, gente! As pessoas com deficiência podem transar, se masturbar, ter orgasmos também. Vocês entendem que a cada tema, a cada cena, jovens e pais podem ser ajudados ou, pelo menos, uma pulguinha atrás da orelha é colocada para as pessoas prestarem mais atenção na própria sexualidade?


Temas importantíssimos para os adolescentes são discorridos de maneira leve e colorida durante os episódios. E há inúmeros outros que não coloquei aqui. Tenho somente duas críticas para Sex Education. Espero que na terceira temporada falem das mulheres gays de forma menos estereotipada e explico: o casal que se forma ao longo da série é a estranha/geek e a que o namorado nunca amou. Ou seja, as mulheres rejeitadas. As mulheres gays não se resumem a isso, por favor. Você pode ser desejada, linda, com a autoestima lá em cima e simplesmente gostar de mulheres…e está tudo bem. O segundo ponto de crítica é que precisa ser mais discutida a questão de gênero e incluir a transexualidade. É na infância e juventude que as pessoas começam a se perceber. Ter um personagem transexual com suas descobertas seria essencial.


As atrizes de Euphoria.



E é aí que entra a série Euphoria, da HBO, que discorre sobre esse assunto de forma natural. Um dos personagens centrais é uma menina trans contando seu dia a dia, seus medos, suas frustrações no amor. Aliás essa obra é um soco no estômago. Não é a adolescência colorida de Sex Education e sim seu lado mais sombrio mas também real com drogas (a protagonista sofre uma overdose), violência física entre namorados, relacionamento abusivo, nudes sendo espalhados, a famosa "Família Doriana” não tão Doriana, as relações amorosas fluidas. Enfim, é um outro recorte mais duro que existe e que também deve ser falado. Acredito que as duas obras se complementam e servem como alertas e ensinamentos.


Quanto mais informação, melhor! Não achem que seus filhos não terão mil dúvidas relacionadas a sexo ou sexualidade, que não irão transar ou não estarão sujeito ao universo das drogas, da violência sexual seja de forma física ou emocional…Infelizmente todos estão sujeitos a diversas situações e, se um dia isso acontecer, que eles saibam como agir, como identificar.


Que a juventude seja vivida de forma mais consciente, alinhada ao conhecimento. Assim os adolescentes estarão mais preparados para experienciar as delícias e os riscos da sexualidade, ou seja, da vida.


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* Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.

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