Cenário: pandemia. Entretenimento: TV. No ano passado, enquanto a estudante Luana Escamilla procurava algo na Netflix para se distrair, deparou-se com o documentário ganhador do Oscar, “Absorvendo Tabu”, que conta a história de uma máquina de absorvente biodegradável em um vilarejo indiano. Ao assistir à produção, a jovem, hoje com 17 anos, começou a pesquisar sobre o assunto e percebeu que no Brasil também existia a chamada pobreza menstrual.
No mundo todo, cerca de 1,8 bilhão de pessoas menstruam e milhões delas têm dificuldade ou não têm acesso a produtos, saneamento básico e até mesmo educação para lidar com a menstruação. Um estudo divulgado, este ano, pela UNICEF e UNFPA com 1,7 mil jovens e adolescentes no Brasil, revela que, entre o público do estudo que menstrua, 35% já passaram por alguma dificuldade por não ter acesso a absorventes, copinhos, água ou outra forma de cuidar da higiene menstrual. “É um assunto ainda pouco falado, com muitos tabus. Existem muitas mulheres sem acesso à ginecologista, saneamento básico, absorvente e elas não são notadas, não têm voz na sociedade”, conta Luana.
Em outubro, ela criou o Fluxo sem Tabu, projeto que visa ajudar mulheres em vulnerabilidade social e também a democratizar o assunto. Sozinha, Luana criou o perfil no Instagram, Tik Tok, site e diariamente alimenta com informação todas as redes sociais em busca de apoio, verbas e kits de higiene. Ao longo dos meses, o trabalho de Luana chamou atenção de ONGs que se tornaram parceiras como a Casa Hope, Instituto C, ABCD na Sua Casa, SP Invisível e um grupo de 600 voluntários prontos para serem acionados nas ações. “Por conta da pandemia, fiquei boa parte do tempo arrecadando e somente este ano consegui ir à campo para fazer a distribuição.” Aliás, as doações podem ser feitas pelo site www.fluxosemtabu.com e também no posto físico, localizado no campus da FAAP, em São Paulo. Em menos de um ano de projeto, já foram entregues 180 mil absorventes higiênicos
Uma ação em andamento é a “Juntas Somos Campeãs”, que começou no primeiro dia da olimpíada de Tóquio e a arrecadação irá até a primeira semana de setembro. “Este trabalho específico tem como objetivo ajudar as meninas atletas e dançarinas. Queremos quebrar o tabu no esporte e levar a dignidade menstrual para elas com um kit de calcinha, absorvente e lenço umedecido”, conta Luana. As beneficiadas são do Balé Paraisópolis, Instituto Sonhe e Meninas em Campo. Estas últimas jogadoras de futebol, inclusive, ganharão este final de semana 300 kits e também chuteira e meião, estes doados em parceria com a Adidas. “Quero muito que o Fluxo cresça cada vez mais. Gostaria de atender outras cidades e outros estados. Tem um Brasil todo pela frente.”
E tem! Ninguém segura essa futura estudante de Publicidade & Marketing que já tem um “case de sucesso nas mãos”. Escolheu bem o caminho, Luana. Agora, voa!
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Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.
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